A Fome



A fome nunca avisa a hora que vai chegar. E naquela noite ela me veio fazer uma festa surpresa. A minha barriga estava mendigando qualquer coisa digerível. Mas não tinha nada para mastigar, pois já engolira tudo dias atrás. E o gosto ficou como que um fragmento de um sonho mal lembrado. Só  me sobrou a medonha vontade de comer algo que não existia. Foi então que algo aconteceu. Na fome se formou o desespero. O ato de comer já não era suficiente. Seria preciso comer um boi pela perna. A fome ainda seria mais sádica comigo, tocando uma macumba na TV que só passava comercial de chocolate e programa de culinária. Mas não me entreguei. A fome por justiça falava mais alto. Indignado, desentoquei um pão bolorento, comendo junto com lambidas intermitentes de restos gordurosos de Qualy. Para dar mais "recheio" ao pão, fui buscar algo diferente na geladeira. Que virou uma jornada intrincada e demorada por entre vários objetos não pertencentes ao universo da comida. Por fim, lá no fundo, bem fundo mesmo, estava algo que parecia valer toda minha insana busca: um belo meio pedaço de mortadela que se contorceu de frio antes de morrer. A traumaticidade do momento me exigiu comer tudo num piscar de olhos. Nem deu tempo de sentiu nada: bom, ruim, tudo era permitido. O que eu posso só dizer é foi direto pra barriga, sem paradas e pit-stops. Foi como o famoso ditado: o que não mata, engorda.

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